Os dermocosméticos, também denominados como cosmecêuticos, se referem a uma classe de produtos que estão na interface entre a área cosmética e a farmacêutica. A necessidade dessa classificação está relacionada às propriedades dermatológicas desses produtos, os quais possuem atividade biológica sobre a pele, couro cabeludo e cabelo proporcionando saúde além de beleza.
No Brasil esse tipo de cosmético se enquadra na Certificação Grau 2 da ANVISA, ou seja, são produtos que possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de eficácia e segurança, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso. Dentre esses produtos estão os cremes anti-idade, protetores solares e bronzeadores, shampoos antiqueda e anticaspa, esfoliantes “peeling” químicos, e produtos para pele acneica, entre outros.
Os requerimentos para comprovar as propriedades cosmecêuticas de um produto, estão além das características de formulação como estabilidade e compatibilidade. O mais importante é comprovar clinicamente que o produto não tem efeitos alergênicos e irritáveis para a pele, e que o produto possui eficácia da atividade recomendada para o seu uso.
Várias empresas cosméticas na Europa, Ásia e EUA já vêm utilizando extratos de cogumelos em suas formulações para diversas aplicações cosmecêuticas, principalmente para a renovação da pele, aumento da elasticidade, e redução de manchas faciais. Os cogumelos mais utilizados com essa finalidade são das espécies Lentinula edodes, Schizophyllum commune, Tremella fuciformis, A. brasiliensis, entre outros.
Muitas publicações científicas abordam as atividades dermatológicas das substâncias produzidas pelos cogumelos, utilizadas nessa área da saúde e beleza da pele. Em nosso capítulo de livro, citamos, por exemplo, um importante estudo pré-cliínico (in vitro, realizado em cultura de células) focado na atividade antioxidante dos extratos do cogumelo Ganoderma lucidum rico em polissacarídeos, que foram muito eficazes na inibição da oxidação lipídica, com elevado bloqueio dos radicais livres, quase duas vezes superior à vitamina C, o que poderia colaborar para a proteção do manto lipídico da pele. Além disso, os extratos poderiam ter um efeito no clareamento da pele, pois in vitro atuaram como inibidores da tirosinase, e também de outras enzimas que desestruturam o colágeno e as fibras elásticas da pele. Além disso, nenhuma toxicidade foi observada em queratinócitos humanos.
Os radicais livres podem acelerar o envelhecimento da pele, que é caracterizado por rugas, perda de elasticidade e firmeza, e aparência áspera, causada por fatores de envelhecimento intrínseco e extrínseco. Quando um produto cosmético é comprovado dermatologicamente que melhoram essas características, pode ser indicado como um dermocosmético anti-aging, por exemplo. Vale ressaltar que nesse caso, o consentimento voluntário das pessoas também é absolutamente essencial quando da participação em ensaios clínicos de cosméticos, conforme o Código de Nuremberg.
Vários resultados utilizando extratos do cogumelo Agaricus brasiliensis em ensaios pré-clínicos, tanto in vitro como in vivo, utilizando métodos alternativos ao uso de animal na pesquisa, também demonstraram que essas substâncias não têm toxicidade. As atividades reguladoras de células imunológicas, de aumento de vida das células tronco, além do aumento na formação dos vasos sanguíneos de até 30% quando se utilizava as substâncias desse cogumelo em ovos embrionados de galinha, indicaram prováveis atividades biológicas para os testes clínicos e dermatológicos em humanos. Essa informação foi muito importante, já que essas atividades fazem parte de processos como a regeneração da pele e formação de novos fios de cabelo. Por essas razões, a avaliação para eficácia e segurança clínica foi realizada em um projeto apoiado pelo Conselho Nacional de Ciência e Desenvolvimento Tecnológico no Brasil (CNPq-Brasil). Neste projeto, foram desenvolvidas formulações cosméticas (gel-creme facial e shampoo) contendo extratos ricos em polissacarídeos. Ambos os produtos mostraram compatibilidade com a pele sem causar irritações ou sensações de desconforto, aceitáveis para aplicações repetidas. Além disso, foi comprovada a eficácia subjetiva e instrumentalmente do gel-creme anti-idade no aumento da elasticidade e firmeza facial em quase 30 %, com redução de rugas e linhas de expressão em apenas 28 dias de uso; e do shampoo antiqueda no aumento da força e resistência capilar, além de estimular o crescimento capilar. Esses ensaios resultaram no registro desses dois produtos na ANVISA com Grau 2, ou seja, com características de dermocosméticos.