Doce Equilíbrio – Por Alexandra Vidal

O verão resolveu adormecer neste dia, e pediu para a chuva fina trabalhar como se fosse quase inverno. Esfriaram os ventos do Sul, e até as cores parecem dormente pela brisa gelada.

Enquanto as crianças montavam animadas uma cabaninha de lençóis e edredons, preparando um ninho quentinho para suas brincadeiras férias, decidi preparar um arroz doce com o leite gordo que veio do sítio.

Para fazer esta sobremesa é preciso muita atenção. Dosar a intensidade do fogo e mexer sem parar, para que o arroz não grude no fundo da panela e para que o leite não ferva e derrame.

Você já deixou o leite ferver e transbordar a panela, sujando todo o fogão? É uma tragédia culinária onde não apenas se perde o leite, mas faz uma sujeira horrível de limpar.

Ou… já deixou o arroz queimar no fundo? Às vezes dá pra salvar a parte de cima, mas na maioria dos casos o gosto amargo do queimado se espalha.

O mesmo acontece conosco em nossos temperamentos e humores. Um pouco de desatenção e começamos pela murmuração, desgastando as relações com bobagens, e quando nos damos conta já transbordamos em uma “onda de raiva”.

Além de ultrapassarmos os limites do respeito, por causa de um simples descuido, no calor de uma mágoa mal resolvida, podemos ferir alguém de uma maneira quase impossível de corrigir.

A verdade é que ninguém é comedido e sensato o tempo todo. Seria ilusão almejar tal nível de temperança, tanto quanto é inútil manter o fogo sempre baixo para evitar os desastres culinários.

Para cozinhar, é preciso dosar a intensidade e o tempo do fogo. Para amar, é preciso ter domínio próprio de nossas emoções.

Mas como somos descuidados, um ou outro desastre sempre pode acontecer de tempos em tempos. A solução é manter a calma e se possível o bom humor.

Avaliar o tamanho do estrago, e tentar salvar o que puder.

Limpar a bagunça, mesmo que demande um pouco mais de esforço e tempo. E se for o caso, começar tudo novamente, desta vez com mais zelo.

Não. Meu arroz doce de hoje não queimou, se é o que estão pensando. E ficou muito gostoso, viu?

Mas sabe como é. Se colocarmos nossa atenção plena naquilo que estamos fazendo, além de obter um excelente resultado, podemos extrair grande sabedoria de todas as coisas. E quem sabe assim, crescer um pouco mais nesta busca pelo equilíbrio tão indispensável para nossa paz interior.


Alexandra Vidal
Roteirista| 3xbestseller | 12 livros publicados | CEO @editora.livra | Palestrante

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Uma resposta

  1. Que linda e poética analogia. Muito verdadeiro que vigiar as emoções o tempo todo é uma difícil tarefa mas com treino e paciência é possível nos colocarmos na posição de observadores e baixar o fogo antes de botar tudo a perder. Afinal o leite sobe e transborda mas os outros ingredientes envolvidos também as perdem nesse momento de “inconsciência”.

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