Filtrando os julgamentos e sobrevivendo a pressão

Em um lado da grande São Paulo Mariana se desdobra para estacionar o carro em frente a escolinha dos filhos de 2 e 5 anos enquanto tenta falar no viva-voz com a colega de trabalho que a espera para a apresentação de um projeto em que estão trabalhando há mais de 6 meses. As aulas de yoga e a meditação que adotara exatamente com o intuito de deixá-la menos ansiosa tiveram que ser deixadas em segundo plano, obviamente por coisas “mais importantes”, casa, trabalho, filho, marido…

No fim da   tarde numa conhecida maternidade, Laura exausta, porém maquiada e com os cabelos bem escovados, menos de 12 horas após a cesariana que trouxe ao mundo a primeira filha, recostada a cama sorri tentando parecer plena enquanto recebe as primeiras visitas. O marido orgulhoso brinda  “seu” feito com o cunhado e um tio mais velho cada um com sua generosa dose de whisky, totalmente alheios ao desconforto que Laura sente no baixo ventre pela recente cirurgia enquanto finge prestar atenção a conversa das tias em tom professoral dizendo que a partir de agora a vida muda completamente, um filho traz não só mais responsabilidade como uma carga de pressão muito maior sobre a mulher, que precisa se dividir entre ser boa mãe, profissional e dona de casa sem esquecer de manter o casamento aquecido, afinal se o marido se sentir deixado de lado começará a prestar atenção nas mulheres que estão em forma, bonitas e descansadas, e aí querida, é onde o casamento começa a desandar. Trocando em miúdos, isso significa que o sucesso ou fracasso do casamento está nas mãos de Laura nesse caso.

Se essas duas situações não soam como ficção para você, saiba que não está só. Todos os dias mulheres precisam lidar com uma pressão desumana vinda da família, cultura e sociedade. Qualquer que seja a decisão, serão cobradas. Se optarem por deixar o lado profissional de lado por um tempo ou diminuir o ritmo para se dedicar ao bebê recém chegado, provavelmente ganharão  o rótulo de acomodadas, por outro lado se entregarem o rebento aos cuidados de terceiros aos 4 meses de idade correm o risco de serem  taxadas como a workaholic mais fria e calculista sem o mínimo instinto materno.

A questão é que todos temos direito a escolhas. Porém essas escolhas vêm acompanhadas dos tais julgamentos. Os que nos julgam tiveram as suas escolhas e fazem seus julgamentos a partir dos seus pontos de vista. E isso não irá mudar. Pessoas continuarão julgando conforme suas referências quer isso nos agrade ou não.

Uma forma eficaz de passar por essas situações sem gastrite nervosa é tentar mudar o ponto de vista sobre o julgamento alheio. Ao invés de levar para o lado pessoal, ainda que o julgamento seja direcionado diretamente ao que estamos vivendo, podemos escolher respeitar a opinião alheia sem acatá-la. Acredite, quando escolhemos ouvir sem sermos reativos ou resistentes, poupamos uma boa dose de energia e com o tempo programamos nosso filtro de acordo com a nossa conveniência. Essa atitude nos tira desse espaço de precisar agradar a todos e muito menos ficar colocando nossa capacidade a prova em todos os setores nossa vida.  É mais ou menos como cair a ficha de que a mulher maravilha dos desenhos que após salvar o dia ainda exibia as ondas dos cabelos impecáveis e o batom vermelho irretocável, só era possível porque não era real.


Luh Mezzari
Carolina do Norte (EUA)
Marketing, Teatro e Cinema
https://www.instagram.com/sendomudanca/

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