A violência obstétrica, infelizmente, ainda é uma realidade atualmente – Liliane Thomaz

‘Porra, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio! Não se mexe, porra’…

Olha aqui, toda arrebentada. Vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela’.

Essas foram algumas das frases proferidas pelo Médico Renato Kallil, transcritas do vídeo que a modelo e influenciadora digital Shantal com mais de 1,5 milhões de seguidores, produziram durante o trabalho de parto que contratou para ser de forma natural e HUMANIZADA.

No depoimento prestado para o polícia, a influenciadora ainda relatou que o mencionado médico prescreveu:

1) medicamento com indicação abortiva pelo médico como solução para entrar em trabalho de parto mais rápido e que somente poderia ter sido utilizado dentro de um hospital;

2) utilização de método não recomendado pela Organização Mundial da Saúde de pressionar o abdômen e a cabeça da mãe para a saída do bebê, em razão dos malefícios que causam a saúde da mãe e da criança; e

3) a realização do procedimento denominado episiotomia que consiste na incisão da região do períneo para facilitar a saída do bebê.

A vítima informou que negou todos esses procedimentos o que deixou o médico visivelmente irritado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde -OMS, a definição de violência obstétrica é “… apropriação do corpo e dos processos reprodutivos da mulher pelo pessoal de saúde, sob a forma de tratamento desumanizador, medicação abusiva e patologização dos processos naturais, envolvendo a perda da autonomia e a capacidade de tomar livremente suas próprias decisões sobre seu corpo e sua sexualidade, o que tem consequências negativas para a qualidade de vida da mulher.”

Os dados quantitativos mundiais são tão alarmantes que a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma declaração sobre o assunto: “No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado respeitoso, mas também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não-discriminação”.

No Brasil, 1 a cada 4 mulheres, passa por alguma categoria de violência obstétrica segundo dados extraídos do Ministério da Saúde.

Não é por outros motivos que, segundo divulgado pela Universa, o número de pesquisa no (google) no mês de dezembro pelo termo violência obstétrica, após o relato da Modelo, aumentou em 550%, bem como o do termo episiotomia em 1130%.

Afinal, essa violência, infelizmente, foi vivenciada por pelo menos 25% das mulheres que já tiveram filho no Brasil, o que retrata a necessidade de políticas públicas de combate a violação, ainda normalizado por alguns profissionais da saúde, os quais não perceberam o grau do rastro de dor e trauma que deixam para trás em um momento em que deveria ser o mais sublime na vida de qualquer mulher e criança.

Nos Estados Unidos esse índice diminui para cada 6 grávida 1 relata alguma categoria de violência obstétrica, segundo dados fornecidos NAPW- Nacional Advocates Pregnant Women, o que também parece alarmante, tendo esse índice um aumento no caso de mulheres indígenas e negras.

Conforme se extrai da legislação acima colacionada, as formas de violência obstétrica podem ser categorizada da forma verbal, física e até psicológica e tem como implicação qualquer categoria de afastamento do direito da mulher quanto as escolhas sobre o parto e seu corpo, bem como maus-tratos durante o parto através de negligência, coerção, abuso verbal ou intervenções forçadas.

Em outras palavras, a mulher grávida deve ser respeitada enquanto ser humano, portanto, tem o direito civil de decidir se quer ou não fazer cesariana, se quer ou não induzir seu parto com medicamentos específicos ou se quer ou não qualquer categoria de incisão ou intervenção cirúrgica em seu corpo. Essas decisões somente são retiradas da mulher no caso de emergências comprovadas e com a finalidade de salvar a vida dela.

É, claro, que o tratamento médico deve ser o mais respeitoso e humano possível de modo que a saúde, psicológica, inclusive, da mãe e bebê sejam preservados durante e após o parto.

No caso de alguma dúvida envie para o endereço eletrônico: atendimento@jhsoficial.org.

Liliane Marques Thomaz

Marilane Lopes Ribeiro

Advogadas


@lilianethomaz.adv

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Uma resposta

  1. Nasci em 1975, através de um parto absurdamente difícil que deveria ter sido uma cesariana devido a tantas horas de sofrimento que minha mãe passou mas horas anteriores ao meu nascimento nada natural. Ela chegava a implorar para que meu pai a levasse pra morrer em casa. Não tinha dilatação e a cada poucos minutos uma enfermeira diferente vinha fazer um toque. Uma chegou a praticamente se sentar sobre a barriga dela para me empurrar. No final das contas nasci a Fórceps e por pouco o açougueiro (médico) não atingiu um dos meus olhos, a cicatriz tenho na sobrancelha e em meio aos meu cabelos. Minha mãe praticamente não me viu nascer e rive sequelas que perduraram anos como infeções incuráveis de ouvido que me acompanharam na primeira infância. Depois de adolescente conheci outras pessoas que tb nasceram sob a supervisão desse monstro e todos foram a fórceps e um dos garotos chamados Fabiano, era cego de um dos olhos pelo menos motivo. Esse tipo de profissional deveria no mínimo perder a licença e ser preso.

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