O Príncipe: A guerra Rússia X Ucrânia – Por Michelle Fernandes

Historicamente, o poder sempre esteve como o elemento central das discussões e conflitos.

Segundo a escola do realismo clássico, teoria das relações internacionais, o enfoque dos governos deve ser no poder, na sobrevivência e no autointeresse. O Estado é o ator principal das relações internacionais e sempre atua servindo ao interesse nacional. Fica explícito o acúmulo e a manutenção do poder, que é tida como uma ferramenta para garantir aos governos sua imposição no meio internacional.

Podemos ver claramente esses conceitos na grande obra realista de Nicolau Maquiavel, O Príncipe. No clássico, o poder está acima de tudo. Outros autores, como Hobbes e Sun Tzu, também contribuíram com essa corrente teórica, mas Maquiavel deixou a sua marca.

No entanto, na corrente teórica Liberalismo/ Pluralismo, outra linha das relações internacionais, o Estado é visto com um “doce vilão” e economicamente interfere o mínimo, deixando o mercado ser o grande ator. As relações internacionais permitem envolver cooperação e diálogo, com o enfoque na paz entre as nações, dando ênfase à diplomacia e possibilitando o crescimento do livre comércio, a negociação e a expansão dos direitos universais dos homens, defendidos por Kant, Montesquieu, Adam Smith entre outros filósofos.

Um ponto importante defendido pelos liberais é a interdependência. Vivemos em um mundo globalizado, com economias integradas, todas as ações de um Estado são sentidas, refletidas em outros Estados.

As duas correntes teóricas são legítimas e servem como base para que possamos analisar e ter uma visão macro e globalizada sobre a guerra. No panorama atual, a Rússia tem a intenção de dominar o território ucraniano e já os vinha impedindo de flertar com a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte e a União Europeia. A Ucrânia, por sua vez, vislumbra um crescimento econômico junto à União Europeia.

Isoladamente, para entendermos os interesses econômicos nesse jogo de poder maquiavélico, não podemos esquecer de analisar algumas questões práticas. Hoje, o Brasil tem a Rússia como principal fornecedor de fertilizantes, ambos pertencem ao BRICS – grupo de países em desenvolvimento e o país não possui histórico diplomático de se posicionar diante de guerras, alguns até defendem a neutralidade, pois sempre foi considerado uma nação amiga de todos.

Em contrapartida, os EUA apoiam a Ucrânia e são o nosso segundo maior comprador, perdendo o posto somente pra China, que é o nosso principal comprador e apoia a Rússia.

As sanções impostas à Rússia com o intuito de acabar com a guerra, coloca os EUA em uma posição importante, porém, pelo fato de pertencerem a OTAN não poderiam entrar efetivamente na guerra, o que poderia também deflagrar a Terceira Guerra Mundial. De qualquer forma, fica o questionamento se eles entrariam na guerra, se fosse possível, e se teriam interesses econômicos.

A verdade é que, contrariando alguns filósofos das relações internacionais, uma guerra em um mundo globalizado sempre terá péssimos reflexos, seja no modelo realista ou liberalista. Os impactos são diversos e podem ser sentidos economicamente, politicamente e socialmente, nas moedas, na logística, na escassez de algumas mercadorias, na inflação, na falta do cumprimento de acordos bilaterais, multilaterais e uma série de outros fatores que só contribuem para o empobrecimento das nações, além de ser o grande mal da humanidade.


Michelle Fernandes
Especialista em Comércio Exterior- Conselheira de Política e Comércio Exterior da ACRJ – Mediadora de Conflitos na CAAEB

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