Exclusivo: Ana Botafogo abre o coração e fala sobre sua carreira como bailarina e do lançamento de sua biografia! Por João Costa

Ana Maria Botafogo Gonçalves Fonseca, mais conhecida como Ana Botafogo é a primeira-bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, é professora de ballet, Palestrante, atriz e possui formação pela Academia de Ballet Leda Iuqui (Rio de Janeiro), pela Academia Goubé na sala Pleyel em Paris (França) e na Academia Internacional de Dança Rosella Hightower e o Dance Center- Covent Garden, em Londres (Inglaterra).

Em meio a uma trajetória profissional apoteótica e ao mesmo tempo com o desafio de se reinventar na pandemia, a minha entrevistada completa quatro décadas de Theatro Municipal, lançou um livro, fala sobre sua carreira e um pouco da sua história de vida. Minha entrevistada é nada menos, que, a maior bailarina brasileira de todos os tempos, Ana Botafogo.

Como foi parte da sua infância aqui no Brasil e depois na Europa quando estudou, inclusive, na Sorbonne?

Ana Botafogo – A minha infância e adolescência foram aqui no Brasil e estudei os primeiros passos de balé em um conservatório de música perto da minha casa, no bairro da Urca. Depois eu entrei para a conceituada, Academia de Ballet Leda Iuqui, no Rio de janeiro. Fiz toda a minha formação lá e tive a oportunidade de então viajar para a Europa para estudar. Nesta época eu já cursava a faculdade de letras – português/inglês e tranquei o curso para ter a chance de estudar em Paris (França), onde fiquei na casa de um tio que era diplomata.
Com 18 anos fui para a Europa, onde fiz um curso de “Língua e Civilização Francesas” na Sorbonne. Dois meses depois de viver uma roda viva de estudos eu passei numa audição e tive meu primeiro contrato profissional, o que foi uma surpresa para mim. Era minha primeira audição pela qual, eu passava na vida. Daí em diante, tudo mudou, pois fui para o Les Ballets de Marseille do coreógrafo Roland Petit em janeiro de 1975, o que gerou uma grande mudança em minha vida e onde começou toda a minha vida profissional.
Logo que cheguei em Paris fui fazer aulas na Academia Goubé, onde eu tinha como referência uma ex – bailarina brasileira e professora de ballet, Yvonne Meyer e com ela eu tinha aulas, assim como tinha aulas com Monsieur e Madame Goubé.

Ao chegar da Europa na década de 70, você foi nomeada a primeira bailarina do teatro Guaíra de Curitiba e depois foi nomeada a primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Como foram estas duas experiências para você?

Ana Botafogo – Foi uma grande emoção, pois fiquei por dois anos na Europa. Não só na Companhia de Roland Petit, mas também fiz curso no Centro Internacional de Dança da Rosella_Hightower em Cannes, e depois fui estudar por mais seis meses em Londres.
Passado esse período eu retornei ao Brasil na esperança de entrar para o Theatro Municipal que estava de portas fechadas, passando por uma de suas reformas. Nesse meio tempo fui convidada para ir até Curitiba para fazer um teste para o papel principal do ballet Giselle. Seria a minha primeira protagonista, “A vida de uma bailarina é feita de testes a vida toda” Fui contratada para dançar Giselle com o Balé do Teatro Guaíra.
Passado este outro tempo , eu voltei para o Rio de Janeiro, onde eu dancei com a Associação de Ballet do Rio de Janeiro, também como primeira bailarina criando novos personagens em diferentes ballets coreografados por Dalal Achcar. Em 1981 surgiu a primeira oportunidade para eu fazer uma audição para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Para a minha surpresa fui eleita pela banca como Primeira-Bailarina passando assim, a me juntar, às jovens e famosas bailarinas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro que eu tanto admirava. Então, foi uma emoção muito grande e o sentido de uma imensa responsabilidade.
Tanto o Teatro Guaíra como a Associação de Ballet do Rio de Janeiro foram responsáveis por me preparar para que eu pudesse entrar no Theatro Municipal, e neste ano (2021), estou comemorando 40 anos de Theatro Municipal.

Você interpretou os principais papéis da dança clássica como: Coppélia, O Quebra Nozes, Giselle, Romeu e Julieta, Don Quixote, O Lago dos Cisnes dentre tantos outros. Qual foi o papel que mais a impactou e por quê?

Ana Botafogo – É sempre uma pergunta difícil de responder. Costumo responder que os meus ballets preferidos são os ballets de repertório, nos quais eu interpreto uma personagem e quase todos que você citou têm personagens incríveis e são longos ballets. 
São personagens nos quais eu atuo em dois, três atos do ballet. Então esses ballets que você citou são muito queridos para mim. No entanto, tenho um carinho muito especial por Coppélia porque foi o meu primeiro papel em que estreei como a primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e que me levou através de um maravilhoso convite, a dançar com o Ballet da Ópera de Roma num espetáculo nas Termas de Caracala.
Todavia, quando me pedem para citar um, digo o ballet de Giselle, pois é um ballet feito em dois atos, tem muita interpretação, há muita nuance entre o primeiro e o segundo atos, é um dos meus ballets favoritos. Entretanto, o ballet que eu mais dancei na vida foi O Quebra Nozes.
Quanto ao ballet “Romeu e Julieta”, trata-se de um xodó de interpretação para mim. Dancei Romeu e Julieta tanto com música de Tchaikovsky como de Prokofiev. Maravilhosa história de Shakespeare.
Portanto, o papel que mais me impactou foi Giselle onde eu sempre encontrei nuances no papel e maneiras de me aprimorar.

Quais foram os reconhecimentos mais significativos que você ganhou no Brasil e a nível mundial?

Ana Botafogo – O reconhecimento mais significativo foi ter visto a popularização da dança clássica, ter visto a dança cada vez mais sendo colocada dentro da nossa cultura. Tentei popularizar a dança e acho que consegui fazê-lo.
O reconhecimento veio pela imprensa e de um público fiel que me ajudou muito a me desenvolver enquanto artista. Recebi medalhas e comendas do governo brasileiro e francês. Tudo isso me traz muita alegria, mas para o artista o aplauso é uma grande recompensa.

Qual foi sua rotina em meio à pandemia?

Ana Botafogo – Aulas, exercícios, encontros com a família e recordações.

Como você enxergou o cenário do ballet em meio à pandemia?

Ana Botafogo – Penso que, de todas as artes, a dança é a que mais tem sofrido com a pandemia porque num primeiro momento, todo mundo fez exercícios e buscou se manter em forma. Porém a dança precisa de muito mais do que só um físico trabalhado.
A dança precisa de espaço para o bailarino saltar, correr, é necessário ter um piso adequado. Fazer aulas só no canto da casa não é o suficiente. Penso que muitos bailarinos vão se perder.
Não estou falando em termos de Brasil, mas em termos mundiais muitos bailarinos vão perder a oportunidade de estarem em palcos pois os teatros estão fechados. O bailarino tem que ensaiar e dançar sempre, diariamente.

Quais as perspectivas de oportunidades de ingresso de crianças no ballet diante do cenário atual de pandemia no Brasil?

Ana Botafogo – É um momento ainda muito delicado. Tenho uma escola de ballet em Niterói, a Âmbar + Ana Botafogo e, começamos a reabrir só em outubro de 2020 e pouco a pouco as pessoas estão voltando. O ideal seria poderem assistir a espetáculos porque o que estimula a criança é poder ver de perto bailarinos profissionais. Há oportunidades de aprendizado, mas as novas gerações ainda vivem ainda um momento delicado de inúmeros protocolos.

Qual o seu conselho para crianças e jovens que estavam fazendo ballet antes da pandemia e que de alguma forma tiveram a interrupção de suas atividades?

Ana Botafogo – Meu conselho é que sejam fortes e voltem o mais rápido para as salas de aula porque dança não se faz só online. Foi necessário durante um momento, mas o meu conselho é que o online pode até continuar como mais uma opção ou até para conhecer aulas, ensaios de grandes mestres que estejam fora de nossa cidade.
Acho que o online será mais uma opção, não deixará de existir. Contudo, a dança precisa do presencial, do espaço adequado, do olhar do professor e do ensaiador. É primordial que se tenha esse olhar de perto e o toque. Não só para crianças e jovens, mais também para bailarinos profissionais.
O toque do ensaiador e do professor são importantes para que cada vez mais, esse bailarino se aprimore. Vale lembrar que, bailarino é atleta e ator já que ele transmite emoções. Ballet não é esporte, ballet lida com emoções e precisa da técnica apurada.

Tivemos a perda de Ismael Ivo, um dos maiores bailarinos do mundo. Vocês trabalharam juntos? Qual a sua reflexão sobre o legado de Ismael?

Ana Botafogo – Foi muito triste, Ismael era muito jovem, e ele estava fazendo um trabalho superinteressante junto ao Ballet da Cidade de São Paulo.
Nunca trabalhei com ele, mas ele veio trabalhar no Teatro Municipal junto com Marcia Haydée, um grupo de bailarinos do nosso ballet. Na época era um trabalho mais contemporâneo e eu não estava escalada para esse ballet.
Entretanto, a meu ver, Ismael deixa um legado muito importante. Ismael fez uma carreira muito importante na Europa, teve contato com a nossa, musa Diva, Márcia Haydée e sei que eles fizeram muitos espetáculos pelo mundo, de modo que foi uma grande perda para dança. Tivemos outros bailarinos que se foram nesse meio tempo também. Sempre é muito triste, sobretudo quando a pessoa tem uma experiência, uma história para contar. Ismael Ivo foi um inovador, pioneiro em muito de seus movimentos e trata-se de uma grande perda para dança.

Quais os seus planos para futuro?

Ana Botafogo – Acabo de lançar o meu livro. Quero poder divulgá-lo o mais amplamente possível. Um livro que foi escrito pelo meu pai, que é uma biografia, onde é contada toda a minha história.
Meu pai fez uma pesquisa por quase 15 anos de tudo que eu fiz ao longo da minha carreira, a partir de recortes, histórias, memórias, cartas, escritos e, sobretudo todas as informações que eram veiculadas pela imprensa começando pela minha infância e mais toda a minha história profissional. É um livro em parceria com o Instituto Bees of Love e a renda do livro será destinada a uma ação social do Instituto Bees os Love, para a reforma, da maternidade do Hospital Miguel Couto.

João Costa – Colunista do Portal VERVE NEWS
Instagram: @joaocostaooficial

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