WM Mag Internacional
Entrevista de Capa: Ana Paula França
Mentora, Fundadora do Acelera Mulheres e Diretora executiva do IBEF – ES
Conselheira | Palestrante | Mentora | Expert da Startse
Ao entendermos a natureza inevitável das mudanças, estaremos melhor preparados para abraçar essas transições e aproveitar ao máximo suas possibilidades. Explorar desde já os desafios e as incertezas até as oportunidades de crescimento e as estratégias para lidar com essas transformações é uma missão, mas é também desafiador. E vamos tratar sobre esses desafios na entrevista com Ana Paula França, conselheira, palestrante, mentora, mãe, empreendedora e muito mais.
WM – Mudanças de vida são eventos transformadores que têm o poder de redefinir nossa trajetória, valores e perspectivas. Em que momento elas surgem?
E eu sempre falo, independentemente do momento em que surgem, as mudanças de vida podem nos desafiar, mas também oferecem oportunidades para nos reinventarmos, aprendermos mais sobre nós mesmos e descobrirmos o nosso verdadeiro potencial.
Para mim todas as mudanças aconteceram em alguns momentos de inflexão como a maternidade, uma crise de burnout e a entrada do meu filho no ensino fundamental, mas houve um ponto em comum em todas as mudanças, no princípio tive medo, mas todas foram para muito melhor!
WM – A vida é uma jornada dinâmica e repleta de diferentes fases e circunstâncias. Quando sabemos que é a hora desta mudança?
Eu costumo usar o exemplo do eletrocardiograma. A vida é similar: tem altos e baixos e se vier a ser uma linha reta, acredite: deu ruim…
Só existe sucesso porque existe fracasso, o bom porque existe o ruim. Sempre haverá motivos para nos entristecer, mas muitos mais para nos alegrar. Como diria Guimarães Rosa:
“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”
WM – O desconhecido pode ser assustador e a zona de conforto pode parecer mais segura. É natural sentir medo?
Essa é uma ótima pergunta! Dizem que somos avessos à mudança, mas eu não concordo! Só chegamos até aqui porque aceitamos e nos adaptamos à mudança. O que de fato, para mim, acontece é o medo do desconhecido. Inseguros de como será o futuro, muitas vezes ficamos paralisamos ou nos autossabotamos. No entanto, eu gosto muito de um conceito de Walt Disney que fala que existem três zonas: a do conforto onde nada muda, a zona de terror onde a mudança é tão grande que nos aterroriza e a zona de intercessão onde a mágica acontece!
Porque não precisamos estar sempre nos desafiando, sempre nos sentindo desconfortáveis ou com medo. É bom também ter um pouco de conforto, de viver no piloto automático, mas não para sempre. Por isso, gosto tanto desse conceito: um pouco de cada coisa!
WM – O primeiro passo para qualquer mudança significativa em sua vida é reconhecer a necessidade de mudar. Isso pode surgir em qualquer momento e de que tipos de sensações estamos falando? Quais os sinais..?
Reconhecer a necessidade de mudar é de fato o primeiro passo para qualquer mudança significativa na vida. Essa percepção pode ser despertada por diferentes tipos de sensações, emoções e sinais. Para nós mulheres, ela vem normalmente fruto da insatisfação com algo ou alguma situação, conflitos internos e nossa eterna culpa ou a intuição, por exemplo, poder que muitas vezes negligenciamos ou ignoramos.
Sobre esse último quero destacar um ponto. Na ânsia de pertencer, de conquistar o nosso lugar, caímos na tentação de nos moldar e fazer caber, de nos tornar mais parecidas com os homens que são naturalmente mais racionais, abafando nosso sentir e perdendo uma das nossas maiores forças. Eu sou um exemplo disso. Me fiz forte, fazedora e hoje trabalho para resgatar esse instinto tão poderoso.
WM – Fazer uma autoavaliação bem honesta. Perguntar a si mesmo com sinceridade resolve, ou é necessário sempre a ajuda de um profissional qualificado? De quais profissionais estamos falando?
Resolve, mas lembra do medo que já comentei? Por causa dele procrastinamos. Crescer dói, sentir dói e normalmente, um profissional ajuda e acelera a curva de crescimento porque não deixa que o medo te paralise. Neste caso, o profissional pode ser um psicólogo ou um mentor. Agora se você não tem recurso para isso, um amigo sincero e mais experiente também pode ser de grande valia.
WM – Depois de reconhecer a necessidade de mudança, é importante estabelecer metas claras?
Você já viu caranguejo a venda? Eu como boa capixaba já vi e os caranguejos ficam presos um no outro, mas não ficam fixos em nenhum lugar. Mesmo assim, o emaranhado de caranguejos não sai do lugar porque cada um faz força para um lado.
Da mesma forma são os nossos objetivos. Precisamos ter metas claras e priorizar. Não damos conta de tudo, nem precisamos dar. O que precisamos é mergulhar dentro de sim, entender o que de fato me faz bem e me impulsiona para perseguir esse caminho.
WM – O autocuidado desempenha um papel fundamental no seu bem-estar geral neste período de mudança?
Ah, para mim, não resta dúvidas! O autocuidado aumenta desde a qualidade do dia até mesmo a autoconfiança. Na minha rotina não pode faltar exercícios, suplementação, oração e momentos de lazer com a família e amigos. E sim, para mim tudo isso é autocuidado, cuidar do que me faz bem!
Uma dica que sempre dou às minhas mentoradas é não ir com muita sede ao pote. Determine uma ou duas rotinas e acompanhe a execução. Não tente mudar tudo de uma vez! Por exemplo: chega segunda e eu tiro o pão, o refrigerante, o açúcar isso e aquilo outro. Dois dias depois eu escorrego na dieta, me sinto mal e volto à estaca zero. Isso desmotiva e possivelmente vai interromper o processo de melhoria. Então dê passos menores, mas consistentes. O importante é estar sempre evoluindo!
Agora se você mesmo com poucos passos passa pelo 8 ao 80, fica uma reflexão: se começa a chover e você percebe que a janela está aberta, você deixa aberta ou fecha? Com o autocuidado deveria ser o mesmo. Se você cometeu um deslize, está tudo bem! Volte para a linha o quanto antes. De novo: mais do que a velocidade, o importante é a direção.
WM – Como surgiu o Acelera Mulheres e o que este projeto tem de especial e de tão importante que vem impactando positivamente tantas pessoas?
Já há algum tempo eu queria trabalhar com mulheres e a entrada do Arthur no ensino fundamental foi o pontapé que eu precisava. Tive uma carreira bem-sucedida, mas com muitos desafios. Como diretora mulher e jovem, sofri com assédio, machismo e com alguns jogos bem sujos. Eu sempre era a única mulher na mesa e sustentar a posição era desgastante demais. Não à toa tive um burnout e “adquiri” algumas questões de saúde que ainda me acompanham como o bruxismo e insônia. Eu não tinha outras mulheres em quem me apoiar ou inspirar. Por isso, neste ano, escolhi dividir tudo que eu aprendi nessa jornada da vida corporativa e empreendedora com outras mulheres para que elas também alcancem o sucesso, mas com mais leveza, com mais saúde mental e em menos tempo.
E o que há de diferente na minha jornada? Há além da teoria, prática! Tem muita gente vendendo algo que não viveu, que só teve sucesso depois que acreditaram no sucesso dele. Eu venho de uma carreira bem-sucedida, de teoria embasada na vivência e na prática. Sei o que funciona, funcionou e o que não funcionará. No mercado financeiro chamamos isso de “skin in the game”, ou eu arrisquei a minha própria pele para aprender e hoje ensino mulheres para que não tenham que passar por tudo que passei.
Quais os principais desafios das mulheres?
Eu chamo dos 3 Cs: culpa, comparação e cobrança. Todas nós passamos por esses Cs quase todos os dias. Culpa de deixar a família para trabalhar, comparação com a blogueira que tem vida de princesa, cobrança por não ter se casado ainda. Esses são só alguns exemplos da pressão que a sociedade e que nós mesmas fazemos sobre nós.
Crescemos sendo ensinadas a agradar, a atender a expectativa do outro, a ser servil, a ser subserviente, que só seremos felizes se casarmos e que precisamos estar sempre lindas. Romper com esses padrões e crenças limitantes, na minha opinião, é o maior desafio da mulher atual. Se conhecer, saber o seu valor e principalmente seus limites é fundamental e é muito do que ensino nas mentorias, cursos e palestras.
Conte um pouco da sua carreira e como dá conta de tudo!
Eu sempre quis ser executiva, por isso cursei administração na federal do ES e logo entrei em um programa de trainee. Ao longo da carreira fiz especializações em gestão, finanças, alta performance e liderança nas melhores escolas de negócios do país, além de uma certificação internacional em liderança feminina o que além da experiência criou a base do Acelera Mulheres.
São quase 20 anos de carreira bem-sucedida, dos quais 10 como executiva em grandes empresas. Liderei centenas de pessoas e orçamentos na casa dos 9 dígitos. Trabalhei em instituições mistas e privadas e nos ramos mais masculinos da indústria. Enfrentei um burnout em plena pandemia, empreendi, voltei ao mercado e me reinventei. Em paralelo a isso tudo, fui a única capixaba a participar do livro Mulheres nas Finanças ao lado das maiores diretoras financeiras do país, sou diretora executiva do IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, conselheira no Banco de Sergipe e Expert da Startse, uma das mais importantes escolas de negócios do país.
Ah! E como eu dou conta disso tudo? Rede de apoio, disciplina, planejamento e priorização. Essas são minhas palavras de ordem!
E como te achar e acessar o programa?
Você pode me acompanhar nas redes sociais por meio do meu Instagram @ana_acelera ou do meu LinkedIn https://www.linkedin.com/in/ana-paula-franca/
Ana Paula França
Fundadora do Acelera Mulheres | Diretora do IBEF – ES
Conselheira | Palestrante | Expert e Mentora da Startse