Marina Ruiz, Planejadora Financeira Empresarial e sua missão em seu Projeto Mães +, para WM Mag Internacional.

WM Mag Interncaional
Entrevista de Capa : Marina Ruiz
Pauta: O desafio da volta ao trabalho após a maternidade
Projeto Mães +

Maternidade e carreira são grandes desafios na volta ao mercado para as mães, dizem os especialistas. Além de conciliar o cuidado com os filhos com a vida profissional se vêem obrigadas a triplicar a jornada de trabalho e, historicamente, mulheres trabalhadoras enfrentam carga de atribuições dificilmente encarada pelos homens. Nesta entrevista com Marina Ruiz, Engenheira de Produção por formação e Planejadora Financeira Empresarial por paixão, vamos conhecer mais sobre sua missão e seu Projeto Mães +.

WM – Quando chegam à maternidade, essas obrigações podem ultrapassar limites. Pesquisa realizada pela InfoJobs, em 2021, aponta a sobrecarga feminina em cerca de 86% das mulheres entrevistadas. Mulheres, em especial mães, precisam se desdobrar ou até triplicar a jornada de trabalho?
Sim, é o que costuma acontecer. É um grande desafio dividir o nosso tempo e fazer muito bem feito todas as nossas atividades. E talvez é aí que está o erro: querer fazer tudo. É muito aliviador quando conseguimos priorizar o que de fato é importante e essencial para a nossa vida, essa decisão tem que ser tomada considerando nossos valores e principais objetivos. Quando atingimos essa maturidade, aprendemos a falar “não” com mais consciência e sem carregar culpas e remorsos. Para mim, por exemplo, é essencial estar presente no dia a dia da minha filha. Eu trabalho pela manhã e a noite. De tarde, meu tempo é 100% dedicado a ela e eu não abro mão disso. Esse meu tempo com ela não está a venda. Essa foi a minha escolha e estou ciente dos ganhos e de tudo que tive que abrir mão para arcar com essa tomada de decisão. Considerando as minhas prioridades e objetivos de vida, sem dúvidas essa escolha que fiz é o que quero carregar na história da minha passagem por aqui.
WM – Essa rotina impacta de forma negativa no rendimento e também no desenvolvimento do trabalho?
Eu acho que o impacto é positivo, porque um filho traz ainda mais determinação para seguirmos adiante, além de querermos ser excelente exemplo e referência para nossos pequenos. O que acontece muito é a mãe não priorizar corretamente suas atividades, tentando dar conta de tudo e, aí sim, não vai dar conta de nada. Então, se o trabalho é uma das prioridades, é importante determinar o tempo que será dedicado só para ele e, dentro desse período, entender qual é a demanda de trabalho possível de absorver e fazer o melhor. Mas, se nesse momento que ela escolheu dedicar ao trabalho, ela tentar fazer outras coisas, ou absorver uma demanda acima da realidade, certamente o seu rendimento irá cair. Mas concorda comigo que essa lógica serve para mulheres com e sem filho? No final das contas, tudo está relacionado com prioridades e organização. No caso da mãe, ela vai se organizar de uma forma diferente para poder dedicar-se a seu filho também. Ela precisa de mais autonomia para gerenciar o seu tempo, ela precisa de flexibilidade de tempo. Então é importante que ela esteja aberta a grandes mudanças e não ficar buscando a rotina que ela tinha antes da chegada do filho e muito menos comparar-se a mulheres que não são mães.
WM – Ter uma atividade profissional na maternidade é emocionalmente demandante, mas produzir outras coisas que não tenham relação direta com cuidar da casa, dos filhos, é muito gratificante? Qual a sua visão?
Eu acredito muito em missão e propósito de vida. Acho que tem mulheres que nasceram para serem mães full time, é uma missão linda, desafiadora e incrível. Outras tem grandes sonhos em relação a maternidade e carreira. Outras realmente trabalham puramente pela necessidade financeira, o que também podemos entender como a missão e compromisso de sustentar o lar. O que quero dizer com tudo isso é que se a mãe trabalha, é fundamental que exista uma causa muito importante para que essa atividade seja prazerosa e gratificante. Eu particularmente acredito muitíssimo no trabalho, eu gosto de trabalhar e tenho muitos objetivos que só serão alcançados através do trabalho. Sendo assim, como eu alinho a minha atividade profissional a uma das minhas missões de vida, a realização dele é muito gratificante e, por isso, não consigo enxergar como um peso ou sacrifício.

WM – Quando as crianças adoecem, por exemplo, nem sempre essa necessidade de se ausentar do trabalho é bem recebida, embora isso não seja muito explícito. Essas demandas podem até comprometer qualquer possibilidade de ascensão no trabalho?
Isso de fato ainda acontece muito, infelizmente. A mãe é vista como descomprometida ou ausente, e na verdade não é isso. Muitas mães têm bastante rede de apoio que ajudam nesses momentos, outras não tem o que fazer, a criança depende fundamentalmente dos cuidados dela. Mas na minha visão, mesmo a mãe que tem rede de apoio, eu acho que em diversos momentos é ela que tem que estar ao lado do filho, independente do dia e horário. E ela quer estar lá, porém se sente desconfortável em estar com o próprio filho por causa da opinião alheia ou restrições que as empresas impõem. É um grande dilema e desconforto que, a meu ver, não faz o menor sentido. Esse contexto vai distanciando a mãe de boas oportunidades na empresa sim, já tive diversos relatos que comprovam isso. Claro que há exceções, mas há um longo caminho para melhoria.
Inclusive esse é um dos motivos que me levaram ao empreendedorismo. Uma mãe precisa de liberdade e flexibilidade de tempo. A gente precisa se sentir confortável em estar com nosso filho seja qual for o momento. E isso não significa renunciar ao trabalho. Isso significa priorizar, organizar-se e utilizar o seu tempo a seu favor e de todos os envolvidos.
WM – A diferença gritante entre homens e mulheres no mercado (Raramente os maridos podem se ausentar para cuidar dos filhos.) ainda impera. Esse conceito de que os homens têm mais responsabilidade, que o trabalho deles é mais importante. Só as mulheres seguram essa barra?
Apesar de já vermos família cujo trabalho da mulher é tão importante quanto o do homem, bem como o respeito do companheiro em relação a carreira dela, acho que temos um caminho sim em relação a divisão do cuidado, no dia a dia, com o filho. Ou melhor, com todos os aspectos da casa / lar. Geralmente a mãe tem mais demanda com o filho e com a casa do que o pai. Eu realmente acho que tem coisas que só mãe mesmo, viu (risos!!) ?!?! Mas com certeza dá para dividir igualmente as tarefas da casa e família como um todo. Então se a mãe está com o filho, por exemplo, o pai pode se responsabilizar pela ida ao supermercado. Acho que a divisão se refere às atividades da casa, que engloba filhos, família e lar. Isso tudo tem que ser justamente dividido, em especial quando mãe e pai tem o mesmo ritmo de trabalho.
Além dessa barreira, sem dúvidas seria bem interessante as empresas darem aos pais melhores condições de licença paternidade, bem como flexibilidade de tempo para auxiliar o filho. Assim como cabe ao pai ter essa consciência e não deixar só com a mãe o desconforto de negociar com a empresa possíveis saídas para cuidar de seus filhos. O filho é responsabilidade do pai e da mãe igualmente, ambos têm que se comportar para que isso seja concretizado na prática.
WM – O que pode ser feito pra humanizarmos esta questão em temos de uma visão 360 graus?
Tem três envolvidos nessa questão: mãe, pai e empresas. Mães e pais devem estar conscientes de que ambos são responsáveis por tudo que está relacionado a uma casa e, então, cabe a eles fazerem uma divisão justa das atividades. Isso é muito particular de cada família. O que não dá é mãe e pai terem o mesmo ritmo de trabalho e, em casa, tudo é responsabilidade da mãe. Isso sim é injusto e gera muitas jornadas de trabalho para a mulher.
Quanto às empresas, cabe a elas entenderem as necessidades de pais e mães e darem condições para que eles consigam exercer essa função sem peso e remorso, sentindo-se confortáveis e acolhidos. Isso vai gerar mais motivação neles enquanto profissionais, podendo inclusive trazer um impacto positivo de produtividade e qualidade de entrega.
WM – Você vivenciou este desafio na prática?
Aqui em casa eu e meu marido somos bem conscientes do nosso papel enquanto mãe e pai, e ambos ajudam no cuidado da nossa filha e casa. Nós dois juntos entendemos que é muito bom a minha presença com ela no período da tarde. Isso foi uma iniciativa minha apoiada por ele, e nós dois estando conscientes dos pós e contras dessa escolha.
Em relação ao trabalho, nós dois somos empreendedores, cada um com sua empresa. Ele trabalha o dia inteiro, mas tem bem mais flexibilidade de negociação. Mas não se enganem: nós trabalhamos muito, inclusive longas hora de noite. O que quero dizer é que mesmo tendo flexibilidade de tempo, provavelmente nós trabalhamos mais do que se fôssemos contratados. Além disso fazemos home office, o que faz a gente trabalhar ainda mais.
Concluindo, esse desafio é superado aqui em casa. Nossas escolhas nos levaram a ter maior gestão do nosso próprio tempo, nos ajudando imensamente nessa questão de divisão das atividades de casa e cuidado com filho, bem como no equilíbrio de jornadas com o nosso trabalho
WM – O que a inspirou a pensar o Projeto MÃES + ?
Foi o dilema que nós, mães, vivenciamos diariamente em relação a nossa carreira e maternidade. A essência do projeto é trazer tranquilidade às mães no que tange esses dois temas. Cada mãe é única e por isso não há regra quando se trata de equilíbrio e harmonia entre carreira e maternidade. O nosso apoio é ajudar elas a entenderem o melhor caminho para seguirem tranquilas e cientes das consequências de suas próprias escolhas.
Considerando essa perspectiva, nós encontramos diversos cenários. O primeiro, que foi onde iniciamos o projeto, foi com mães que buscaram no empreendedorismo a alternativa para equilibrar carreira e maternidade. Então nós entramos com o apoio não só para estruturar o negócio, mas também em organizar as prioridades de tal forma que a mãe construísse sua carreira, sem deixar a maternidade de lado. E aqui encontramos a mãe que quer trabalhar o dia todo e a mãe que quer trabalhar num período para o outro ficar com seu filho. A depender do tempo disponível dessa mãe para o trabalho, não importa se são 2h, 5h ou 8h diárias, a gente ajuda na estruturação do seu negócio, inclusive entendendo a remuneração dessa mãe.
Conforme a gente foi evoluindo e entendendo mais o nosso propósito, o projeto foi se modificando. Nós percebemos que as mães que mais precisam de nós são aquelas que estão em situação de fragilidade financeira. Isso porque, considerando o nicho de mães iniciais, geralmente eram mães que foram para o empreendedorismo, porém tinha um bom suporte financeiro. Eu entendi que queria gerar mais impacto e transformação na vida das mães, queria e quero mudar para melhor a realidade dessas mulheres que vivem o dilema de sonharem um futuro melhor para seus filhos, mas por algum motivo não estão conseguindo. Com o projeto Mães+, eu me proponho a ajudar essas mães através do trabalho, que é algo que acredito muito.
Então, o meu propósito de conciliar trabalho e maternidade, temas os quais acredito e que são as minhas prioridades, continuam. Porém o Mães+ agora se transformou em um projeto social, onde iremos formar mães, em situação de fragilidade financeira, nas áreas de Contas a Pagar e Contas a Receber, que são processos que a minha empresa MR Finance tem reconhecido know-how. Após a formação, iremos trabalhar fortemente para ajudar essas mães a voltarem ao mercado de trabalho, seja através da contratação CLT, seja através do empreendedorismo como Microempreendedoras (MEI), oferecendo serviços de BPO Financeiro para outros empreendedores. Por ser um projeto social, não haverá qualquer custo para as mães selecionadas.

WM – Fale- nos um pouco mais sobre o MÃES + e como é possível a participação?
Estamos selecionando mães que comprovadamente não tem renda suficiente para o sustento de sua família. Como estamos falando de uma formação na área financeira, essas mães precisam ter o Ensino Médio Completo. Podem ter curso técnico ou até mesmo graduação, mas no mínimo o Ensino Médio é fundamental para prosseguirmos.

WM – Ao conhecer as singularidades das mães, é possível desenvolver ações que garantam a permanência delas no emprego?
Dentro da nova proposta do projeto Mães+, a gente vai trabalhar o perfil dessa mãe bem como um apoio emocional se for necessário. Isso porque, a depender do perfil e objetivos dela, a mãe tem mais chances de sucesso no empreendedorismo ou no corporativo. No entanto, para ambas as opções existem desafios a serem superados que a mãe tem que estar consciente, determinada e resiliente para passar por eles, sem desistir. Eu acredito que são essas ações que deixará a mãe mais preparada para a sua carreira, auxiliando na permanência dela no mercado de trabalho.
WM – Durante a pandemia, milhares de mulheres perderam o emprego e descobriram que os desafios de ser mãe e trabalhadora nunca foram tão evidentes. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que a taxa de desemprego feminina em 2021 foi 16,45% superior à dos homens, resultando na marca de 7,5 milhões de mulheres que permanecem fora do mercado no país. É um número grande e agravante, pois super mulheres só existem no cinema?
Sabe que eu sempre me questiono o que é ser uma mulher maravilha (risos!!). É muito triste esse cenário e é exatamente nessa questão de igualdade e empregabilidade que quero atuar através do projeto Mães+. A super mulher que faz tudo perfeitamente, sem erros, sem desafios e dilemas, sem ter que abrir mão de algo em pró de outra escolha, ou então conquista tudo em um curto prazo de tempo, essa só existe no cinema mesmo. Mas eu diria que existi sim a super mulher real, que é aquela que faz escolhas sábias aderentes aos seus valores e objetivos de vida. É a mulher consciente das consequências das suas decisões e convicta de que essas escolhas foram as melhores naquele momento. Digo “naquele momento”, porque nós mudamos periodicamente, então é normal revisitarmos nossas prioridades ou alterar o caminho para alcançar alguns objetivos. A mulher que tem essa consciência, que quer ser hoje melhor do que foi ontem, que faz o seu melhor naquilo que se propõe e sabe dizer “não”, sem culpas, porque está focada nas escolhas dela, essa sim é uma verdadeira mulher maravilha.

Marina Ruiz

https://www.instagram.com/marina.ruizmr/

Mãe e empreendedora
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