Eu deixei de VOAR aos 30 anos! / Por Tristan Tell para o Tutano’s Blog

Eu deixei de voar aos 30 anos!
Eu deixei de voar bem próximo dos meus trinta anos. Vinte e nove e pouquinho, em novembro, acho que entre 1993 e 1995. Preciso fazer as contas. Esta habilidade angelical, como se em anjos sequer eu acredistasse, não me abeçoava mais, como se em bençãos eu acreditasse. Um par de asas pro infinito não me cabia mais. Flutuar, era coisa que também não conseguia.
Antes, bem antes eu voava num ideal único de liberdade, eu procurava libertar -me e aos outros. Combatia, como um dragão alado, o Estado, a religião, os preconceitos morais e todos os elementos de opressão. Estava nascendo em mim o Super-Homem. Eu era nada mais do que uma idéia sobre o homem livre. E voava, voava, voava…livre. Eu era jovem, bem jovem, um jovem livre.
E livre eu defendia a inexistência em vários sentidos: de Deus, da alma e do sentido da vida. Abandonei as muletas metafísicas, declarei morte a todos os ídolos. Opunha-me aos dogmas da sociedade, principalmente ao defender que a verdade era uma ilusão. Eu ainda defendo, mas não vôo mais. Meu planos de vôos e todos os meus sonhos de me tornar um ser basilisco (Basiliscus plumifrons), conhecido popularmente como Lagarto Jesus Cristo e sair em disparada sobre as águas rumo ao horizonte, não existem mais. Estou envelhecendo.
Obviamente, que a minha capacidade de voo foi desenvolvida por mim como uma ave através das eras e era muito vantajosa evolutivamente, pois se manteria até hoje, seu ainda pudesse voar. Estou envelhecendo!
Porém, como toda atividade desenvolvida por qualquer organismo vivo, gera um custo energético, o qual neste caso é muito alto. Por esse motivo é tão comum vermos as aves que voam longas distâncias voarem em grupos, geralmente em uma formação específica. Pelicanos, por exemplo, quando voam em formação, alternam entre si o batimento das asas e planeio em uma sucessão regular. Dessa forma, esses animais aumentam seu tempo planando e, consequentemente, diminuem sua frequência cardíaca e seu gasto energético em comparação com o voo individual. Estou envelhecendo de fato, mas ainda creio em discos voadores e seres de outras galáxias. Meu Deus é o de Spinoza e assim sendo, e segundo Spinoza, Deus é aquilo que existe por si só, e por mais nada é determinado a existir, e todo o mundo, ou tudo aquilo que existe, existe em Deus e é parte essencial de Deus, ou seja, Deus é tudo e tudo é Deus ao mesmo tempo. Estou mesmo envelhecendo. Antes, bem antes quando eu voava sobre os quintais, entre pardais, jardins, caramanchões, por sobre os Andes, prados e cidades grandes e todo mar infinito eu sabia ser livre e não precisava de um Deus canônico, genuíno e oficial, oficialmente sancionado. Como ainda não preciso, preciso, não preciso, precisamente.
Hoje minha neta vem me visitar como tem feito a cada 2 ou 3 meses para asssitirmos desenhos animados e sua mãe me pergunta se paguei o aluguel e se as contas de casa estão em ordem.

“- Sim, está tudo certo! , apenas meu disco voador ainda não aportou no meu quintal.

Tristan Tell é Jornalista acidental, Cineasta por formação, Poeta e Escritor dos Livros: Bastardo Bliss, Tez de Amianto e Psicopompos Neutrais, disponíveis pelas redes sociais:

https://www.instagram.com/tristantell_escritor/

www.tristantell.com.br


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