MTD – Como a experiência de ser filha de pais separados e a dinâmica familiar influenciaram sua visão de mundo e suas relações pessoais?
Ser filha de pais separados não foi tarefa fácil, pois não tínhamos a figura masculina presente; assim, nos tornamos uma família de mulheres fortes e determinadas, e ser forte o tempo todo não é para qualquer uma. Minha mãe não se casou novamente; sempre fomos apenas eu, ela e minha irmã mais velha. Comecei a trabalhar aos 14 anos para ter “o meu” dinheiro, sempre me dediquei aos estudos e sabia que este era o caminho para ser bem-sucedida, dependendo somente de mim mesma.
MTD – De que maneira a proximidade atual com seu pai e as mudanças frequentes durante a infância afetaram seu desenvolvimento social e emocional?
Minha mãe diz que eu tinha febre na véspera de ver meu pai; sempre gostava quando chegava o momento de estar com ele. Hoje entendo que a mãe (divorciada que fica com os filhos) educa mais e fica com a parte “chata”, e o pai, que convive menos, fica com os passeios; é o que acontece comigo e minhas filhas hoje. As mudanças frequentes fizeram com que eu quase não tivesse amigos; de infância, então, nenhum mesmo. Eu era bem tímida e tinha muita dificuldade em me entrosar; as outras crianças diziam que eu era “metida”. Não sei exatamente quando, mas a chave virou, e hoje tenho facilidade de conversar até com quem não conheço, rs. Adoro falar em público e compartilhar meu conhecimento!
MTD – Pode nos contar sobre sua trajetória acadêmica e profissional e como isso se alinha com sua paixão pela área de vendas e sexualidade?
Fiz faculdade de Administração de Empresas e de Ciências Contábeis. Sou servidora pública efetiva do meu estado há 14 anos. Comecei a trabalhar revendendo produtos sensuais como renda extra após o divórcio. Sempre gostei de vender; tinha um colega que dizia que “só não vendia a mãe porque a irmã era sócia”, rs. Mas, ao conversar mais com as clientes sobre a intimidade delas para recomendar melhor os produtos, percebi que faltava muito conhecimento e educação sexual e que elas precisavam de orientação para melhorar seus relacionamentos, sua autoestima e sua sexualidade como um todo. Por isso, decidi me aprofundar nesses assuntos.
MTD – Como sua carreira como sexóloga e terapeuta sexual impacta na qualidade de vida das mulheres que você atende?
O conhecimento em sexualidade me proporcionou auxiliar minhas clientes nas dúvidas sobre seus relacionamentos e entender que, muitas vezes, a questão é baixa autoestima e relacionamento na rotina, o que gera baixo desejo. Para a mulher, as questões do desejo envolvem várias variáveis, não só diretamente a questão sexual. E muitas vezes a mulher se culpa e não se dá conta da exaustão que seus múltiplos papéis geram. Através dos atendimentos, consigo fazer com que a mulher perceba o que realmente a incomoda e como podemos trabalhar sua sexualidade, melhorando sua qualidade de vida.
MTD – Qual foi o momento decisivo que a levou a perceber sua verdadeira missão e como isso transformou a sua abordagem profissional?
Definitivamente, o divórcio mudou muitos pensamentos para mim. Passei por momentos de exaustão, depressão e muita ansiedade. Ver o padrão econômico diminuir e me preocupar excessivamente com minhas filhas, esquecendo de cuidar de mim mesma, foi um grande sinal de alerta. Como poderia cuidar delas sem cuidar de mim mesma? Tive que resgatar minha autoestima e estudar muito para me reerguer. Além disso, percebi que meu comportamento afetava diretamente minhas filhas. É importante entender que trabalhar nossa autoestima e amor-próprio não acontece instantaneamente; é um processo contínuo. Estou me especializando para guiar mais mulheres nessa jornada.
MTD – Em face dos desafios pós-divórcio, como você equilibra as responsabilidades de mãe, profissional e empreendedora?
Equilibrar tantos papéis não é tarefa fácil. Muitas vezes, esquecemos nosso papel de mulher e de cuidar de nós mesmas. Como empreendedoras, nos dedicamos intensamente aos nossos negócios, e muitas vezes só paramos por motivos de saúde. Estou implementando momentos de lazer e fazendo o que gosto, não apenas o que os outros esperam. Com disciplina e priorização, conseguimos equilibrar nossos papéis gradualmente. Saber dizer não quando necessário também é fundamental para não assumirmos tarefas além do que podemos dar conta.
MTD – Quais estratégias você utiliza para cuidar da sua saúde mental e bem-estar diante da sobrecarga de tarefas e preocupações com o futuro de suas filhas?
Fazer terapia é essencial para cuidar da saúde mental. Além disso, tenho hobbies e momentos de lazer. Estar em família é importante, mas também é fundamental ter momentos sozinha, estar em minha própria companhia. No passado, isso era complicado para mim, mas trabalhei internamente para aceitar e curtir minha própria companhia e meus pensamentos.
MTD – Como a aceitação dos ciclos emocionais femininos e a prática da gratidão influenciaram sua jornada pessoal e profissional?
O autoconhecimento me fez aceitar e respeitar meus ciclos emocionais femininos, que estão relacionados aos hormônios. Nós, mulheres, somos cíclicas, e é importante respeitar quando estamos bem ou não, mais produtivas ou mais introspectivas. Tentar ignorar esses ciclos para obter resultados não é a melhor estratégia de produtividade. A prática da gratidão é essencial para reconhecer o que alcançamos e o que temos de bom. Parei de dar tanto valor ao que me falta e passei a agradecer pelo que já sou e tenho, tanto na vida pessoal quanto profissional.
MTD – De que maneira o cultivo diário da autoestima e a autenticidade impactam a forma como você se relaciona com suas filhas e consigo mesma?
O cultivo diário da autoestima é fundamental para desenvolvermos o amor-próprio. É importante lembrar que somos espelhos para nossos filhos; mães com baixa autoestima provavelmente criarão filhos com baixa autoestima. Quando tenho uma boa autoestima, não significa que sou melhor do que ninguém, mas sim que estou satisfeita comigo mesma, que me amo e reconheço que posso ter pontos a melhorar, mas sou grata por quem sou hoje. Isso me ajudou a ser autêntica e a não querer atender a padrões que os outros esperam de mim, mas que, ao meu ver, não me cabem. E é isso que ensino às minhas filhas, após perceber o quanto meus pensamentos e opiniões sobre mim mesma e sobre os outros impactam nelas.
MTD – Qual conselho você daria para mulheres que estão lutando para se reconectar com seu feminino e se priorizar em meio às exigências da vida cotidiana?
Primeiro, é preciso se conscientizar de que não somos a “Mulher Maravilha” e que está tudo bem em não dar conta de tudo; podemos e devemos pedir ajuda! Esse processo de resgate do feminino e de auto priorização começa com o amor-próprio e o se valorizar. Muitas vezes, esperamos que os outros nos valorizem, mas nem nós mesmos fazemos isso. Comece devagar, mudando sua mentalidade, valorizando-se e amando-se mais. Você não está sozinha! Eu posso te guiar nesta jornada!
Jornalismo VERVE