A divisão entre direita e esquerda parece ser uma constante na sociedade, uma linha que separa visões de mundo, interpretações da vida, e, sobretudo, sonhos de como deveria ser o futuro. No entanto, quando analisamos o que realmente motiva essa separação, descobrimos que ela vai muito além das meras questões econômicas ou do debate sobre o tamanho do Estado. A história de ideias como as de Robert Owen e Charles Fourier, socialistas utópicos que tentaram reformar o tecido social, revela que a divisão entre direita e esquerda está profundamente ligada à própria natureza humana, às aspirações, medos e desejos que moldam nossa visão de sociedade.
Robert Owen, um pioneiro nas ideias de cooperação, tinha uma visão otimista sobre o potencial humano. Ele acreditava que, ao oferecer melhores condições de vida e trabalho, a natureza humana poderia ser moldada para o bem. Em New Lanark, uma fábrica escocesa, Owen implementou reformas sociais que melhoraram significativamente a vida dos trabalhadores, acreditando que um ambiente de cooperação e harmonia geraria uma sociedade mais justa. Essa experiência parecia promissora, mas a tentativa de replicar essa utopia em New Harmony, nos Estados Unidos, falhou. Por que? A resposta, talvez, esteja nas complexidades das relações humanas e nas tensões inevitáveis entre os desejos individuais e as necessidades coletivas.
Charles Fourier, por outro lado, acreditava que a liberdade absoluta dos desejos humanos levaria à harmonia social. Ele imaginou comunidades chamadas falanstérios, onde cada pessoa seguiria seus impulsos naturais sem restrições, acreditando que isso seria suficiente para gerar uma sociedade equilibrada. No entanto, a realidade se mostrou menos idealista. A diversidade de interesses humanos e a falta de incentivos econômicos adequados acabaram por inviabilizar seus planos, destacando as limitações práticas de tentar organizar uma sociedade exclusivamente em torno da cooperação voluntária.
Essas tentativas utópicas de Owen e Fourier nos ensinam algo crucial: a sociedade humana é complexa demais para ser moldada por teorias simplistas. A divisão entre direita e esquerda, tão presente no mundo atual, reflete, em parte, essa mesma complexidade. Há ricos que apoiam causas progressistas e pobres que defendem políticas conservadoras, e isso não pode ser explicado apenas pela situação financeira de cada um. A afiliação política, muitas vezes, nasce de uma combinação de fatores psicológicos, sociais e culturais. A psicologia moral sugere que pessoas de direita tendem a valorizar a ordem, a tradição e a autoridade, enquanto os que se identificam com a esquerda priorizam a justiça social e a igualdade.
Além disso, a experiência de vida de cada indivíduo influencia sua visão política. Aqueles que enfrentam crises pessoais ou sociais profundas podem buscar refúgio em ideologias que lhes ofereçam sentido e estrutura. Em um mundo incerto, onde as mudanças sociais e econômicas são rápidas, muitos recorrem a essas divisões ideológicas como uma forma de organizar sua compreensão da realidade. A luta entre direita e esquerda, portanto, não é apenas um reflexo de debates econômicos ou políticos, mas também uma manifestação das inquietações humanas mais profundas.
Assim como os sonhos utópicos de Owen e Fourier falharam em capturar a totalidade da experiência humana, as divisões políticas modernas são incapazes de resolver todas as tensões que moldam a sociedade. A complexidade das interações humanas, dos desejos contraditórios e das necessidades coletivas sempre desafiará qualquer modelo que tente simplificar a organização social. A divisão entre direita e esquerda é, em essência, um reflexo dessa complexidade, uma luta contínua para equilibrar as aspirações humanas com as realidades do mundo.
E, no fim das contas, talvez a verdadeira questão não seja tanto escolher um lado, mas entender que a diversidade de pensamentos, assim como a diversidade de desejos humanos, faz parte da nossa natureza.
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Tristan Tell _ Poeta e Jornalista