
Você já parou para pensar que este mundo caótico, sem ordem, sem descanso, sem sentido, foi um desejo atendido? Que foi um pedido feito à lâmpada mágica num deserto social, político e cultural que já estava árido?
Queríamos liberdade total, e agora somos prisioneiros da hiperconectividade. Queríamos um mundo sem limites, e agora nos afogamos no excesso de informação. Queríamos escapar da opressão externa, e agora somos nossos próprios algozes, explorando a nós mesmos até a exaustão. Você fechou as janelas e abriu o gás. Criou este monstro que agora te devora.
Os filósofos clássicos já alertavam sobre isso, mesmo sem prever a era digital. Nietzsche descreveu o niilismo—o colapso dos valores que sustentavam a sociedade, deixando-nos sem referências e entregues ao vazio. Ele dizia que, sem algo maior para guiar nossas vidas, nos perderíamos em busca de estímulos superficiais, exatamente como acontece hoje. Schopenhauer já via o mundo como um ciclo infinito de desejo e frustração, onde cada conquista logo se torna insuficiente, gerando nova insatisfação. O homem moderno, segundo ele, está condenado a nunca se sentir completo.
Então, como resolver isso? Os remédios tradicionais—descanso, lazer, desconexão—são paliativos. O problema exige uma solução radical. E os clássicos nos oferecem algumas saídas:
- Nietzsche e o Super-Homem – Se a sociedade se tornou insaciável, a resposta é criar seu próprio sentido. Nietzsche propunha que, diante do caos, devemos reinventar nossos valores e deixar de buscar validação externa. Sair do jogo. Criar algo novo.
- Epicuro e a Simplicidade – Em um mundo onde o excesso nos esmaga, a solução pode ser voltar ao essencial. Epicuro acreditava que a felicidade vem do simples: comer bem, cultivar boas amizades, evitar excessos. Se nos livrássemos do supérfluo e buscássemos o que realmente nos nutre, o vazio perderia força.
- Estoicos e o Controle do Impulso – Sêneca e Marco Aurélio defendiam que a chave para não sermos consumidos pela sociedade está em treinar nossa mente para ignorar o que não podemos controlar. O caos lá fora pode ser grande, mas não precisa nos dominar por dentro.
Mas será que ainda temos forças para isso? Ou já estamos tão entregues a esse monstro que criamos que não conseguimos mais sair de suas entranhas?
Talvez o primeiro passo seja admitir que este mundo foi nossa criação. Que, ao desejar liberdade sem propósito, apagamos as referências que nos sustentavam. Se quisermos algo diferente, precisaremos fazer mais do que reclamar do vazio—teremos que reconstruir, tijolo por tijolo, um sentido que não seja apenas ruído e repetição.
Mas quem ainda tem coragem para isso?

Tristan Tell
Cineasta, Jornalista, Escritor e Editor Responsável pelas Publicações Verve
@tristantell_escritor
Uma resposta
“… Mas quem ainda tem coragem para isso?”
Obrigada pelo conteúdo que veio de encontro com as minhas especulações!