
De Nobreza e Sofisticação à Mediocridade Triunfante
A frase de Tancredi em O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa – “É preciso que tudo mude para que tudo continue como está” – não poderia ser mais atual. Se no século XIX a decadência da nobreza deu lugar a uma burguesia oportunista e sem refinamento, no Brasil dos últimos 30 anos testemunhamos um fenômeno semelhante: o colapso dos valores culturais, substituídos por uma elite sem formação, sem escrúpulos e sem qualquer compromisso com o legado civilizatório. O país não viu uma verdadeira mobilidade social, mas sim um teatro grotesco onde o dinheiro tomou o lugar da virtude, e o espetáculo da vulgaridade dominou a sociedade.
A Morte da Cultura e o Triunfo da Ignorância
Nos anos 1990, o Brasil ainda respirava um pouco de sofisticação. A música popular tinha identidade, o cinema ensaiava uma retomada, e o debate intelectual ainda era valorizado. Mas, pouco a pouco, o país mergulhou em uma mediocridade crescente. O mercado passou a ditar o que era arte, e a cultura virou um negócio de massas onde qualidade foi trocada por rentabilidade.
No lugar da MPB, surgiu o sertanejo comercial, um produto enlatado de melodias descartáveis e letras infantis. No lugar da literatura e do cinema como reflexo da sociedade, tivemos youtubers milionários, best-sellers de autoajuda rasa e a ascensão de reality shows que transformaram a imbecilidade em espetáculo. Não foi um avanço, mas um retrocesso disfarçado de modernização.

A Burguesia do Ostentação: Dinheiro sem Cultura, Poder sem Ética
Se no passado a nobreza investia em arte e ciência, hoje a elite brasileira consome carros de luxo e mansões bregas em condomínios fechados. A ascensão econômica dos últimos 30 anos não gerou uma classe média sofisticada, mas sim um exército de novos ricos movidos pelo fetiche da ostentação.
Os jogadores de futebol viraram ícones, mas poucos conseguem formular uma frase coerente. Os empresários enriqueceram, mas continuam escravos do gosto duvidoso e da corrupção. Os políticos se tornaram milionários, mas não pela inteligência ou pelo compromisso público, e sim pelo domínio das falcatruas.
O Brasil não se tornou um país de oportunidades; tornou-se um feudo onde os mesmos senhores controlam tudo, apenas com roupas diferentes. A farsa da mobilidade social criou uma ilusão de progresso, mas, na essência, o poder continua nas mãos dos mesmos perfis de oportunistas que sempre souberam jogar o jogo da influência e da manipulação.
Conclusão: Um País sem Nobreza e sem Alma
O Leopardo de Lampedusa ainda caminha entre nós, mas hoje veste abadá de camarote, dirige SUVs blindados e posa em podcasts vazios que se autoproclamam intelectuais. O Brasil não viu uma evolução social, mas sim uma mutação onde o dinheiro comprou tudo – menos a grandeza de espírito.
Se o país quiser se reinventar, precisará resgatar o que perdeu: cultura de verdade, valores sólidos e uma elite que compreenda que riqueza sem refinamento não passa de vulgaridade sofisticada. Caso contrário, continuaremos sendo um país de Tancredis modernos: sempre mudando de lado, mas garantindo que tudo permaneça igualmente podre.

Tristan Tell
@tristantell_escritor
Bacharel em Comunicação, habilitado em Cinema pela FAAP(1986-90). Jornalista c/ 31 anos de experiência em veículos de comunicação como TV Record, TV Bandeirantes e diversos jornais.
Músico ( EP – Espinha Dorsal) e Poeta é Autor de 06 livros
www.tristantell.com.br