Sempre que penso em maternidade sou arrebatada por um misto de sentimentos. Entre eles a culpa! Sim, como toda mãe, tenho a maior facilidade do mundo para me ajoelhar e me açoitar como fazia aquele fanático religioso do livro Anjos e Demônios do Dan Brown, o Silas, sabe?Tempos atrás fui a uma palestra de uma psicóloga na escola da minha filha quando ela tinha 5 anos. E o foco era Núcleo Familiar.
E é interessante pensar quando esse núcleo começa a ser formado. Se analisarmos isso se dá quando começamos a pensar na criança como parte da família. Antes mesmo de termos “encomendado” o bebê. Estando ou não grávida, a mulher já idealiza como vai ser a educação, que tipo de comportamento será aceitável, o que irá mudar ou não na vida do casal com a chegada do bebê (este último item é de longe o mais impossível de prever) enfim, toda uma atmosfera é construída em torno de um ser que ainda não existe de fato.
Outra questão interessante a ser pensada é a dimensão da responsabilidade que colocamos nesse ser que ainda nem chegou na nossa vida. Qual o propósito de ter um filho? É muito comum a busca em:
– completar a nossa família
– completar o CASAL
– preencher o vazio
– ME COMPLETAR (essa pra mim é a pior de todas)
Como depositar em um ser que nós mesmos teremos que formar como pessoa, a responsabilidade de completar o que nos falta?
E aí quando chega o nosso lindo bebê e nos damos conta de que ele não vem com manual de instrução, de que nem sempre ele mama de 3 em 3 horas e dorme a maior parte do tempo (como os filhos das mulheres das revistas) e que é mais comum o marido chegar e nos encontrar com o cabelo sujo e rodeada de babitas por lavar, do que prontas para um jantar descontraído…nós espanamos! Nos culpamos de sermos as piores mães do mundo porque não estamos dando conta da função mais nobre de toda a nossa vida. Nos culpamos porque estamos estressadas, cansadas por não conseguir dormir 2 horas seguidas durante a noite ou talvez por apagarmos de tal forma a sermos despertadas pelo parceiro que acordou com o choro do bebê e nós não!!!!! Tudo é motivo de culpa, de choro, de frustração, afinal temos no colo a criatura mais linda do universo, a qual amamos incondicionalmente e ainda assim não conseguimos sentir a tão falada completude.
É nesse momento crítico, em meio fraudas, babadores, refluxos, insônia e cansaço, que cai sobre a nossa cabeça, como se fosse a maçã na cabeça de Isaac Newton, a descoberta: Ninguém pode completar o outro. Não temos o direito de atribuir essa função a outra pessoa, muito menos à uma criança. Se fosse possível ouvir os pensamentos dos bebês como naqueles filmes bobos da Sessão da Tarde, numa situação dessas eles nos diriam: _ Peraí!!! Eu nem sei direito como vim parar aqui e você quer que eu resolva as suas faltas?
Analogias a parte, os filhos quando chegam nos mostram na verdade o que nos falta. A falta de jeito para lidar com o tempo, com a organização, a falta de paciência e equilíbrio para enfrentar situações de tensão entre outras milhares de coisas que só vamos ajustar vivendo um momento de cada vez. Aí sim, quando a tal maçã cai sobre a nossa cabeça e tomamos consciência de que não dá para seguir uma planilha com resultados exatos para ser a mãe incrível que queremos, começamos a viver o lado gostoso da maternidade. Quando conseguimos tomar um banho demorado ou saímos para fazer as unhas sem culpa por “abandonar” nossa criança por alguns instantes, começamos a sentir o prazer total do sorriso banguela mais lindo do mundo, a valorizar cada evolução, a ter saudades no meio da noite e mesmo cansada não resistir a dar uma olhadinha naquela criatura que ali, dormindo, ninguém imaginaria ser tão trabalhosa e exigente. No estágio de aceitação por não sermos perfeitas e que não existe ser humano completo é que começaremos a ser mães de fato. Por saber que assim como vamos fazer todo o possível para ensinar tudo a essa criança essa mesma criança vai nos ensinar muito sobre nós mesmas.
2 respostas
Que texto incrível, real e muito humano. Não sou mãe mas sei que é assim, a gente vê, acompanha e vai entendendo as mães. Você descreveu muito bem essa realidade. Parabéns 👏 e que venham mais textos reais como esse ❤️😘
Me fez chorar muito, quantas culpaz carregamos. Muitas vezes sem sermos culpadas. Ou por realmente sentirmos culpa, porque achamos que poderíamos ser melhor do que fomos. Me dói sem cessar está angústia de ser mãe.