Conectividade

São 6:30 da manhã em São Paulo. Paula é despertada pelo alarme do celular. Após a rápida ducha matinal, enquanto cumpre o skincare, ativa os áudios do whatsApp para se atualizar sobre os assuntos mais urgentes. O aplicativo se tornou uma ferramenta de triagem, sobre quais e-mails irá ler primeiro durante o café.

Ao mesmo tempo, Alissa coloca em ação sua agilidade com o hashi para devorar seu jantar do outro lado mundo, antes de correr seus cinco quilômetros na esteira e checar a agenda do dia seguinte. Se não houver nenhum imprevisto essa noite, conseguirá assistir ou dois episódios da sua Série no Netflix.

Já Liah, de pé desde às 6:00 da manhã, prepara o desjejum dos dois filhos enquanto o marido checa as mochilas e ajuda com os lanches das crianças antes de sair para o trabalho em um dia comum em Belo Horizonte. Após deixar as crianças na escola, Liah recebe pela segunda vez o alerta de que sua primeira cliente do dia a espera as 8:00h na clínica de estética onde trabalha como massoterapeuta.

Assim como Paula em São Paulo, Alissa no Japão e Liah em Belo Horizonte, outras milhares de pessoas no planeta, iniciam e encerram seus dias conectadas aos dispositivos eletrônicos tanto para trabalhar quando para se entreter.

Conexão é sem dúvida umas das palavras que não sai do vocabulário da vida moderna. Ao acordar pela manhã a grande maioria de nós têm uma lista de tarefas a serem cumpridas que sem a internet, provavelmente não daríamos mais que um passo. A agenda do Google, do Outlook ou mesmo o bloco de notas no celular, se tornou ferramenta de trabalho imprescindível no dia a dia.

A tecnologia usada a favor da produtividade, proporcionando formas de se organizar, receber alertas sobre compromissos, contas a serem pagas e uma infinidade de outras facilidades que o mundo tech nos oferece, além de otimizar nosso tempo, nos coloca em um espaço de ordem.

Ousaria dizer que essa ordem se trata de sobrevivência em mundo cada vez mais globalizado onde a rapidez da informação chega a ser esmagadora.

Em contrapartida essa tempestade de informações quase mais rápidas que o pensamento, coloca os seres humanos muitas vezes na posição de máquina, atendendo a comandos o tempo todo para não travar a engrenagem da vida moderna.

Porém, o que se esquece, é que gente não é computador. Pessoas têm que lidar com as próprias emoções, além das emoções dos que estão ao redor. Humanos não foram projetados para viverem encaixotados dentro de um universo de circuitos e gigabytes 24 horas dia. Ainda não inventaram um aplicativo capaz de substituir de verdade o abraço caloroso de um amigo ou aquela historinha contada pela mãe na hora de dormir. Eles conseguem no máximo distrair nossas faltas e medos enquanto o próximo alerta não toca.

Mas então, como encontrar o equilíbrio nesse empasse entre desconectar do virtual para se conectar com o real? Em que altura do caminho os seres humanos deram o comando “power off” em si mesmos para se manterem conectados o maior tempo possível?

Será mesmo um caminho sem volta ou é possível encontrar pequenos espaços de tempo para respirar sem tecnologia? Qual seria o efeito em nossa vida se tentássemos entrar em modo contemplativo ao invés de Modo Avião ansiosos pelo sinal do Wi-fi?

Pensar sobre essas questões podem influenciar não somente a nossa própria vida como a das gerações futuras a criar um espaço de SER ao invés de apenas fazer, produzir, mostrar e postar. Da próxima vez que encontrar aquela amiga para um café, experimente deixar o celular na bolsa e se conectar com a pessoa a sua frente. Se isso parecer desconfortável, talvez seja o momento de dar um “restart” na conexão consigo mesma e o mundo real a sua volta.


Luh Mezzari
Escritora
@luhmezzari

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