MTD – Charlise, você mencionou que desde a infância sentia-se perdida e com medos atípicos para a idade. Como esses sentimentos influenciaram suas escolhas e trajetória profissional?
Devido aos meus desafios com emoções e sentimentos, para compreender e estudar sobre saúde mental e emocional, escolhi durante a faculdade de enfermagem atuar na área da psiquiatria. Para cuidar de crianças, adolescentes que estavam em sofrimento psíquico-com depressão, transtornos de ansiedade, autismo, TDAH.
MTD – A pressão para ‘dar certo na vida’ é algo comum em muitas famílias. Como você conseguiu superar as crenças limitadoras impostas desde a sua infância?
Quando após uma reunião com minha chefe, ela me orientou que minha ansiedade estava prejudicando meus resultados no trabalho e me sugeriu buscar terapia. Na terapia aos poucos fui compreendendo meu funcionamento desde a infância, meus bloqueios e crenças que me faziam sofrer muito emocionalmente com coisas simples. Fui ressignificando e mudando por crenças mais fortalecedoras sobre mim.
MTD – Passar em um concurso público é visto como um grande sucesso no Brasil. Qual foi o momento em que você percebeu que essa não era a única forma de ‘ser alguém na vida’?
Após ter conquistado tudo que sempre sonhei, ter apartamento bom, carro, viagens, ir em restaurantes, no meu trabalho tinha salário, status, mas mesmo assim faltava algo, um sentindo a mais na vida. Parecia que eu tinha feito tudo que meus pais sonhavam, mas me sentia presa num castelo de vidro, vazia, angústia e desconectada de minha essência.
MTD – Trabalhar com saúde mental, especialmente com crianças e adolescentes, exige muita empatia e força. O que te motivou a escolher essa área e quais foram os maiores desafios que enfrentou?
Fiz estágio com crianças e adolescentes em sofrimento psíquico durante a faculdade e me encantei pela área da saúde mental. Escutava de muitos colegas e profissionais que me criticavam e falavam“ cuidar dos pacientes da saúde mental não tem muito o que fazer, eles são loucos, não tem muito o que fazer por eles, só medicar para fazer dormir, você é enfermeira e não psicóloga”. Um dos desafios de saúde mais difíceis de nosso tempo é a luta contra o preconceito em relação à saúde mental Isso pode ocorrer com amigos ou familiares e em todas as esferas da vida; em casa, na escola, no local de trabalho e no hospital, e inclusive entre os profissionais da área da saúde.
MTD – Você alcançou o sonho de trabalhar no Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Como foi essa experiência e o que ela te ensinou sobre si mesma e sobre a saúde mental?
Foi uma experiência incrível de muitos aprendizados, no início muito medos e inseguranças do primeiro emprego. Relacionamentos com equipe de enfermagem, pois o enfermeiro é líder dos técnicos de enfermagem, se comunica com toda equipe técnica- médico, psicólogo, nutricionista,educador físico. O hospital é local que as pessoas estão em sofrimento físico, emocional e mental, estão muito fragilizadas e vulneráveis. Logo os profissionais de saúde em especial a enfermagem por estar na linha de frente por mais tempo acaba sofrendo mais estresse e fragilizando a saúde mental e emocional. Busquei me fortalecer mais emocionalmente e mentalmente para dar conta das demandas da equipe.
MTD – Empreender pode ser um grande desafio, especialmente quando se tem medos e inseguranças. Como foi o processo de despertar o seu ‘girassol interior’ e tomar a decisão de empreender?
Despertei meu girassol interior para decidir empreender durante um retiro espiritual de 3 dias que fiz em 2006 da Seicho-No-Ie. Me despertou um sonho de empreender adormecido pelos medos e crenças que “ empreender é muito difícil e que não era mim, não tinha capacidade para isso”. Minha mente se voltou para luz igual girassol, criou em mim uma crença que eu podia aprender e fazer algo novo empreender.
MTD – Charlise, você passou por uma jornada de superação de crenças limitantes e uma relação abusiva. Como essas experiências moldaram sua visão sobre a autonomia e o empoderamento feminino?
Essa experiência me libertou das prisões emocionais que eu nem percebia que me prendiam por longos anos da vida. Eu acreditava que estudar e trabalhar eram fundamentais para uma mulher ter autonomia e empoderamento. Mas a dependência emocional ocorre com mulheres que são independentes financeiramente também. Foi o que aconteceu comigo, relacionamento abusivo quando percebi estava fazendo tudo pelo outro, me deixando ser manipulada pelo controle excessivo do outro. Controle de parar de usar batom, roupas e até conviver com amigas e familiares para dar atenção ao que outro quer, deixando minhas coisas sempre para segundo plano para atender a vontade do outro.
MTD – A transição de uma carreira CLT para empreendedora em terapias holísticas foi um grande salto. Pode nos contar sobre o momento decisivo que a impulsionou a fazer essa mudança?
Tudo é processo, primeiro eu fui fazendo as terapias, recebendo os atendimentos de reiki, praticando a meditação e fortalecendo minha saúde mental e emocional. Me sentindo mais calma e confiante para resolver qualquer desafio que se apresentava. A mudança de dentro para fora, foi sendo percebida pelas pessoas que eu convivia no trabalho. Fui aprendendo a me valorizar, me amar e tendo confiança para fazer atendimentos com as terapias holísticas.
MTD – Mudar-se para Cascavel representou um novo começo para você. Como essa mudança de ambiente contribuiu para o seu crescimento pessoal e profissional?
A mudança para Cascavel-PR foi a experiência mais corajosa e incrível que já fiz na vida. Foi um começo em todos os sentidos mesmo. Sai de uma capital gigante onde morava num apartamento pequeno para morar numa casa grande com pátio, com cachorro, longe dos meus pais, no momento recente após pandemia em 2020.
Pedir demissão da CLT, depois de 10 anos de trabalho no Hospital que sonhei trabalhar a vida inteira, foi um desapego, e uma loucura para todos os meus colegas, familiares e amigos. Mas eu e meu marido tínhamos certeza da decisão e que se a gente desse passo Deus ia nos apoiar. Levamos a empresa de brindes personalizados do marido, comecei atender terapias holísticas- Reiki e mães atípicas também.
MTD – Sua missão de vida é cuidar e apoiar pessoas, especialmente mães atípicas. Qual é a importância desse trabalho para você e como você vê o impacto dele na vida dessas mulheres?
Como Enfermeira da Saúde Mental sempre orientei e cuidei de mães atípicas. Quando escuto, acolho uma mãe atípica que coloca em prática as minhas orientações no dia a dia com seu filho e família os resultados são relações mais felizes e produtivas no dia a dia. Incrível perceber que quando uma mãe atípica se cuida da sua saúde mental e emocional ela cuida melhor, estimula mais seu filho, grita menos, se estressa menos, acaba cuidando melhor da sua alimentação, do seu corpo e seus sonhos adormecidos começam a ser despertados. Por isso mantra para mães atipicas: Acolha suas fragilidades e desperte seu girassol.
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